ARTIGOS

A Primeira Ponte do Recife
A que hoje chamamos Ponte Maurício de Nassau é, de fato, não só um marco na história de Pernambuco, como também demarca, entre vários outros acontecimentos, a importância da presença judaica no período seiscentista da próspera capitania, que coincidiu com o domínio holandês.
A superlotação do Recife e a desvalorização dos terrenos em Maurícia, antes chamada de Ilha de Antônio Vaz, e que hoje compreende o bairro de Santo Antônio, eram dois dos motivos da necessidade de se construir uma ponte. A falta de segurança e a lentidão na travessia de Recife à Maurícia desencadeavam não só problemas de habitação, como também sanitários. A necessidade de se transportar água parece ter sido, dentre os principais, um motivo forte para a decisão da construção da ponte.
Os planos para tal empreendimento já datavam de 1630, mas ameaçavam alguns empreendedores do Recife, pois perderiam, com a ligação entre as ilhas, parte da concentração do poder econômico.
Em 1638, o Conde de Nassau, então governador, planejou, antes de dar início a obra, analisar a correnteza do rio para, junto a esta ação, demonstrar publicamente sua intenção. Para isso, contratou um pedreiro português de nome Manoel da Costa, que teve a função de construir um pilar de pedra com 12 metros de comprimento.
Em 1641, publicou-se no Recife, um edital convocando os interessados em efetuar, com competência, a construção da ponte, a comparecerem no dia 11 de fevereiro, na Casa do Alto Conselho, para tomarem conhecimento do projeto, das instruções e das condições para a empreitada.
Quem ganhou a concorrência foi o engenheiro judeu, Baltazar da Fonseca “um homem que já tinha tido em mãos outras obras semelhantes, sendo entendido” (Melo,1978,p.95), que comprometeu-se a executar a obra no prazo de dois anos, por “240:000 florins e uma dádiva de 1:000 patacas em espécie para a sua esposa, no caso de vir a casar” ( Melo, 1978, p.95). Para ser aceito apresentou como avalistas dois judeus que eram bem conhecidos: Gaspar Francisco da Costa e Fernando Valha.
Dizem, alguns estudiosos do período, que um dos motivos que levou Baltazar da Fonseca a demonstrar tanto afinco em tal concorrência, decorria do fato que, num dia em que experimentava a dor pela morte de seu pai, vira-se impedido de comparecer ao funeral, pois, com a baixa da maré, a travessia por meio de botes ou balsa tornava-se inviável. Assim, determinou-se à tal obra.
As obras começaram e em 1642 já estavam construídos 15 pilares partindo de Maurícia e a cabeceira deste lado, mas as obras foram paralisadas no começo de 1643. Encontramos diversos motivos para tal interrupção:

  • Há quem mencione uma enchente como motivo, pois tornou arriscado o trabalho dos operários.
  • Outros dizem que era incompetência do engenheiro.
  • E ainda, que foram tramóias dos holandeses, visto que já tinham metade da ponte já construída.

Esta paralisação foi motivo de zombaria para o Conde de Nassau, pois ao determinar a construção, não havia pedido conselhos, nem autorização ao Conselho dos XIX. Desta forma, ele se colocou à frente da obra, desembolsando dinheiro próprio, mas devido ao custo da obra, faltando ainda 10 pilares de pedra, Nassau completou-a utilizando madeira resistente à umidade.
Só em 1644, no dia 28 de fevereiro, num dia de domingo, foi possível passar do Recife à Maurícia “a pé enxuto”. Foi dada por inaugurada a ponte, parte em pedra e parte em madeira, tendo quase o dobro do comprimento da atual: começava no atual cruzamento da avenida Marquês de Olinda com a rua Madre de Deus e ia até o atual cruzamento das ruas 1o de Março e Imperador D. Pedro II.
Nas cabeceiras da ponte foram levantados dois arcos, com portas para manter a segurança. Logo após a ponte, do lado do Recife estava a “Pontpoort” (Porta da Balsa) na paliçada, que dava acesso à “Pontstraat” ( rua da Balsa), a atual Marquês de Olinda. Mais tarde, em 1742, os arcos receberam denominação de “Arco da Conceição” (no Recife) e “Arco de Santo Antônio” (em Santo Antônio).
A comemoração programada para sua inauguração fez com que, além de entrar para a história como um marco de desenvolvimento, entrasse também para o folclore pernambucano, devido ao evento do “Boi Voador”. Espetáculo planejado por Nassau, a fim de cobrar pedágios e, provavelmente, repor os seus gastos pessoais. Até poesia, tipo jornalística, (de autor desconhecido) tal fato rendeu.
Um outro fato curioso e pouco conhecido é que, esta ponte contava com uma parte levadiça. Em 11 de junho de 1649, com o acúmulo de pessoas, em ambas as cabeceiras, desejando passar, ao estar a ponte descida, o excesso de peso a fez ruir. Cerca de 16 pessoas caíram no rio. Entre os nove mortos encontrados no outro dia estavam Baltazar van Dertmont, membro do Conselho de Contas e David Atsembora, notário e procurador no Recife.
Em 1683 a ponte passou por uma reforma, mantendo-se os arcos de pedra. E em 1742 aconteceu uma grande transformação: aproveitando-se alguns dos pilares postos por Baltazar da Fonseca e os arcos postos por Nassau refez-se a ponte sendo remodelados os arcos e neles postas as imagens de N. Sra. Da Conceição e de Santo Antônio, que lhes emprestaram os nomes. A nova ponte contava também com cerca de 60 casinhas (primeiro de taipa e depois de pedra e cal) que eram lojinhas onde se vendiam de panos da China e jóias a quinquilharias e ferragens.
Em 1813 fez-se reformas na ponte, aproveitando-se ainda os primitivos pilares postos por Baltazar da Fonseca. Mas a velha estrutura não resistiu e dois daqueles pilares ruíram em 5 de Outubro de 1815, levando toda a estrutura abaixo. A estrutura foi toda renovada – perdendo-se o legado do engenheiro judeu –, mas em 1862 uma parte da ponte caiu, o que a fez ser substituída por uma de ferro.
Em 7 de Setembro de 1865 foi inaugurada a ponte de ferro que recebeu nova denominação: “Ponte 7 de Setembro”. Não resistindo a estrutura aos males do tempo, foi substituída.
Em 18 de Dezembro de 1917 inaugurou-se a atual “Ponte Maurício de Nassau”, nome dado em homenagem ao construtor da primeira ponte do Brasil.
Em 1913 foi demolido o Arco da Conceição e em 1917, o de Santo Antônio.
É importante salientar que a ponte construída por Baltazar da Fonseca resistiu de 1642 até 1815, Durante este tempo teve as seguintes denominações:
  • 1642-1861: Ponte do Recife
  • 1861-1917: Ponte 7 de setembro
  • 1917- atual: Ponte Maurício de Nassau.
Fonte de Consultas
Mello, José Antônio Gonsalves. Tempo dos Flamengos. Recife: Editora Massangana. FUNDAJ
Ferrez, Gilberto. Velhas Fotografias Pernambucanas. 1851-1890Rio de Janeiro. Campo Visual.1988
ACERVO: NÚCLEO DE PESQUISA DO ARQUIVO HISTÓRICO JUDAICO DE PERNAMBUCO


Fonte/site: http://www.arquivojudaicope.org.br/2012/curiosidades/a-primeira-ponte-do-recife.html
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Recife - Bairro
O nascimento do bairro do Recife, o mais antigo da cidade, remete ao século XVI. Na época, ele era chamado Freguesia de São Frei Pedro Gonçalves. Há registros que se referem à localidade como uma estreita língua de terra, medindo cinqüenta passos de largo, isto contando com alguns terrenos. Lá, surgiram os primeiros núcleos urbanos: a freguesia de Frei Pedro Gonçalves e o Porto do Recife. Por este último era enviado todo o produto da atividade agro-açucareira. Do ponto de vista geográfico, o bairro do Recife surgiu no final do istmo de Olinda, espremido entre o mar e os rios Capibaribe Beberibe.
         A região tinha um perímetro de, aproximadamente, mil metros quadrados, onde as pessoas se amontoavam, em uma das mais elevadas densidades demográficas já conhecidas: 27 mil habitantes por quilometro quadrado. Por esse motivo, o conde Maurício de Nassau, no período do domínio holandês (1630-1654), construiu uma ponte em madeira com o objetivo de chegar às demais localidades da capitania. A referida construção foi nomeada Ponte Maurício de Nassau e funcionou como um elo entre a avenida Marquês de Olinda e a rua 1º. de Março, no bairro de Santo Antônio.
         Ao longo da faixa litorânea, por sua vez, próximo às muralhas dos arrecifes - formados há milhões de anos pelo encontro do mar com a areia - surgiria um ancoradouro que, no período colonial português, recebeu o nome deArrecife dos Navios, pelo navegador Pero Lopes de Souzae que ficou registrado em seu Diário de Viagem (1530-1532). Durante muito tempo, oArrecife dos Navios representou o principal portão de escoamento de mercadorias -  o açúcar, o pau-brasil, animais silvestres, ouro, pedras preciosas, e outras - e de desembarque de imigrantes europeus, cuja meta era a exploração das riquezas naturais da terra descoberta.
         Cabe ressaltar que, a trajetória histórica do bairro do Recife está intrinsecamente ligada à do Porto do Recife, e ao desenvolvimento socioeconômico e cultural do Estado de Pernambuco e do Nordeste do Brasil, uma vez que aquele porto, além de representar o ponto principal de troca de mercadorias, ainda abastecia as capitanias do Piauí, do Ceará, da Paraíba, de Alagoas e de Sergipe.

         No século XVI, com a colonização portuguesa, houve um crescente movimento da produção e da exportação de açúcar, o que contribuiu para o surgimento dos primeiros povoados de imigrantes europeus, ao longo da vizinhança do porto. Depois disso, foram sendo construídos vários armazéns (para a estocagem de açúcar), prédios, sobrados, casarões, moradias populares e estabelecimentos comerciais. A presença holandesa, por sua vez, trouxe para a capitania toda uma mão-de-obra especializada - artesãos, pesquisadores, engenheiros e técnicos – proporcionando melhorias significativas à localidade.

         Com o passar do tempo e o conseqüente desenvolvimento da navegação, o porto do Recife tornou-se um palco de atrações para a população. Esta parava para assistir ao embarque e desembarque de pessoas, divertindo-se com a chegada dos primeiros navios a vapor, dos transatlânticos e dos paquetes estrangeiros. Quando estes cruzavam a barra, o barulho dos tiros de canhões, disparados pelo Forte Quebra-Portas, eram ouvidos por toda a cidade. Outros episódios também marcaram a vida social do porto: o desembarque de personalidades ilustres, a exemplo de Santos Dumont, Joaquim Nabuco, D. Pedro II e a imperatriz Teresa Cristina, bem como das procissões fluviais realizadas por pescadores que eram devotos  de  Nossa Senhora dos Navegantes e de Nossa Senhora da Boa Viagem. Estes últimos faziam cortejos em jangadas, barcas e canoas, partindo do Marco Zero-Quilômetro e chegando às praias de Boa Viagem e de Piedade.

          Da Praça do Marco Zero-Quilômetro, no bairro do Recife, é possível se observar uma muralha de arenito, consolidada por carbonato de cálcio e produzida pela dissolução de conchas e corais. Foi essa muralha - com mais de seis mil metros de extensão - que viabilizou a existência do porto. Em 1836, vale salientar, o ilustre naturalista inglês Charles Robert Darwin, ao circunavegar o mundo, esteve naquelas pedras e escreveu um trabalho intitulado O recife de grés do porto de Pernambuco, explicando a gênese dos arrecifes, sua durabilidade, e o papel de certos corais e moluscos na formação daquela muralha. Ele concluiu inclusive que, sem a referida barreira de arenito, jamais teria havido um ancoradouro.
         Antes do século XIX, as embarcações que chegavam à cidade ficavam ancoradas fora da barra, sendo bastante penosa a descida dos passageiros para o continente. Com a construção do Cais da Lingüeta (também chamado de Lamarão, Poço, Mosqueiro, ou Laminhas), os navios de grande porte puderam atracar no porto. Finalmente, no começo do século XX, o Governo empreendeu uma série de obras importantes no porto, que ficaram a cargo da empresaSocieté de Construction du Port de Pernambuco. Na ocasião, construíram-se grandes armazéns, cais acostáveis e dragou-se a parte interior do porto. O primeiro vapor a atracar no cais foi o São Paulo, um paquete pertencente aoLoyde Brasileiro. Durante a Segunda Guerra Mundial, o porto teve ainda uma relevante participação histórica, ao servir de base de apoio às Forças Expedicionárias Brasileiras e Norte-Americanas.
         Vale registrar que, no porto do Recife, os boêmios perambulavam pelas madrugadas em busca de meretrizes, de bares, de bebidas alcoólicas, e/ou de amigos.  Além disso, pela região portuária passaram vários expoentes da cultura brasileira, tais como Gilberto FreyreMauro MottaAntônio MariaCarlos Pena FilhoMário MeloAscenso Ferreira, Gilberto Osório de Andrade, Hugo Ferreira (Hugo da Peixa), Renato Carneiro Campos, entre outros. As mulheres do bairro eram chamadas por Ascenso Ferreira de damas da noite. E, em homenagem ao grande poeta, existe uma praça hoje com o seu nome, no Cais do Apolo, construída à beira do Capibaribe, e um enorme busto de cimento, onde se encontram gravadas duas placas. Em uma delas pode-se ler um trecho dos seus versos:                                                                                                          
                              Sozinho, de noite
                                     nas ruas desertas
                                     do velho Recife,
                                     que atrás do arruado
                                     deserto ficou,
                                     criança , de novo,
                                                 eu sinto que sou.

         O poeta que amava perambular pelo bairro e discorrer sobre os engenhos, as casas-grandes, a cana-de-açúcar, os vaqueiros do Nordeste brasileiro, o cangaço, o bumba-meu-boi, o carnaval, os cegos violeiros.
         No Porto do Recife havia uma praça chamada Voluntários da Pátria que, posteriormente, adquiriu o nome de Arsenal da Marinha, e hoje é denominada Praça Artur Oscar, em homenagem a um dos generais que comandaram a campanha de Canudos. É nessa praça que se pode apreciar a Torre Malakoff, um monumento que faz parte do patrimônio histórico e turístico da cidade.
         Vale salientar, no bairro, uma famosa casa de diversão existente nas décadas de 1930 a 1950: o Cassino Imperial, localizado na Avenida Marquês de Olinda, uma das mais elegantes do Recife. Além do Cassino, havia também a Casa de Banhos, o Forte do Brum, a Estação Ferroviária do Brum (de onde partiam os trens da Great Western of Brazil Railway Co. Ltd.), a Ponte Giratória, a Cruz do Patrão (uma coluna dórica com seis metros de altura e dois de diâmetro, oriunda do século XVI), o Forte do Picão, o Monumento ao Infante D. Henrique, a Igreja da Madre de Deus (um dos templos em estilo barroco mais importantes, que foi construído em 1709), entre outros. Famosos, ainda, eram o Bar OK, situado na Avenida Marquês de Olinda, e o Bar do Chileno, cuja clientela era composta por marítimos, e que se encontrava no início da atual Rua do Bom Jesus. No local do Bar do Chileno, hoje, existe uma livraria.

         Situado na atual rua do Apolo nº 121, antiga rua Visconde de Itaparica, vê-se um prédio cuja construção esteve suspensa por algum tempo, e onde funcionava a Sociedade Harmônico-Teatral. Lá funciona o Teatro Apolo, que foi construído entre os anos 1835 e 1840, e inaugurado em 1946, com a peça O Mouro de Ormuz.
         A Sinagoga Kahal Zur Israel (ou Congregação Rochedo de Israel) a primeira sinagoga das Américas, representa um dos marcos mais importantes da presença judaica no Brasil-colônia. O templo está localizado na Rua do Bom Jesus, chamada antigamente de Bockestraet e Rua dos Judeus, e que representou, durante o período de ocupação holandesa, a primeira sinagoga oficial dos judeus que habitavam nas Américas. Próximas a essa sinagoga, inclusive, funcionavam duas escolas religiosas: Talmud Torah Etz Hayim. Após a derrota dos holandeses, aquela rua passou a ser conhecida como Rua da Cruz, e os prédios da sinagoga e das escolas religiosas receberam o número 26. Somente a partir de 1879, porém, o logradouro veio a ter o nome atual: rua do Bom Jesus. Este nome marcaria o retorno do predomínio colonial português, bem como as perseguições a todos aqueles que seguiam as tradições judaicas.
         Na rua São Jorge no. 419, uma continuação da rua do Bom Jesus, acredita-se ter nascido Frei Caneca (frei Joaquim do Amor Divino Caneca), o carmelita e patriota que foi um mártir da Confederação do Equador, uma das personalidades mais importantes da história de Pernambuco, e que, no dia 13 de janeiro de 1825, foi condenado e fuzilado no Forte das Cinco Pontas.
         Com o passar do tempo, as belas construções se deterioraram e o bairro adquiriu um aspecto sombrio e desprovido de beleza. Neste sentido, a partir de 1994, foi revertido o processo de deterioração que a região vinha sofrendo. O bairro adquiriu uma nova roupagem, surgindo, então, um dos pólos turísticos mais relevantes: o Recife Antigo. Os casarões e prédios foram restaurados e pintados, surgiram novos bares, restaurantes, e outros estabelecimentos comerciais. No presente, alguns armazéns que compunham o complexo portuário vêm sendo utilizados como centros de atividades culturais para grupos de dança, de teatro, para bibliotecas virtuais, exposições, feiras artesanais, lojas eshoppings. Além disso, os prédios em estilo colonial foram tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN).
         Para se chegar no Recife Antigo, basta descer a Ponte 12 de Setembro (antes, chamada Ponte Giratória), e seguir, sempre em frente, a avenida Alfredo Lisboa. Ali se encontra a Praça do Marco Zero-Quilômetro, que fica atrás do monumento a Paranhos Júnior. Nessa Praça, que foi restaurada nos últimos anos, vê-se a inscrição: 0 km/Automóvel Clube de Pernambuco/31-1-1938.Nela, há também um monumento em mármore, medindo um metro e meio de altura, que representa o busto de Nelcy da Silva Campos, o prático da barra que se tornou um herói pernambucano.

         A esse respeito, cabe registrar que, no dia 28 de junho de 2004, através da lei municipal no. 16.983/2004, o Terminal Marítimo de Passageiros da Cidade do Recife, situado no Marco Zero, passou a ser chamado Terminal Marítimo de Passageiros Prático Nelcy da Silva Campos. Além do monumento desse herói, pode-se apreciar na mesma praça duas outras preciosidades: um farol estilizado, esculpido por Francisco Brennand, e um painel, no piso, elaborado por Cícero Dias.

         No bairro do Recife, é possível se observar, também, a Igreja de Nossa Senhora do Pilar, situada na praça homônima, que foi construída em 1680 sobre os alicerces do Forte de São Jorge. A capela-mor do templo possui o formato de uma abóbada semi-esférica, sendo revestida de azulejos lusos raríssimos.

         Vale lembrar que, em 1630, o Forte de São Jorge resistiu heroicamente ao desembarque dos holandeses, bombardeando os seus navios durante mais de vinte dias. Contando somente com a presença de trinta e sete homens, a qualidade da defesa e a coragem dos combatentes fizeram com que os flamengos (em quantidade maior de homens e mais bem armados), capitulassem após terem perdido um número considerável de soldados.  O Forte foi construído no século XVI pelos donatários da capitania de Pernambuco, para dar segurança e proteção à barra do porto. Atualmente, aquela fortificação é chamada Forte do Brum, e representa uma das relíquias do bairro do Recife. Por seu relevante valor histórico, inclusive, a construção foi tombada pela Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Por sua vez, no dia 19 de dezembro de 1985, através da Portaria Ministerial no. 1240, o Governo Federal autorizou a criação do Museu Militar do Forte do Brum (MMFB), em homenagem ao soldado nordestino. O local foi inaugurado no dia 5 de janeiro de 1987, como um espaço para visitação turística, bem como para estudo e reflexão.   
         Através do plano de revitalização do bairro do Recife, foram restaurados muitos prédios e locais antigos, os quais adquiram novos coloridos. Entre eles se encontram o Cais da Alfândega, as praças Rio Branco, Tiradentes, o Largo da Igreja do Pilar, o calçadão e a praça do Arsenal da Marinha, as ruas do Bom Jesus, Domingos José Martins, Dona Maria César, e da Moeda, como também as pontes que partem ou chegam ao bairro do Recife: a Ponte de Limoeiro, a Ponte Buarque de Macedo, a Ponte Maurício de Nassau e a Ponte 12 de Setembro. Em decorrência do processo de revitalização do bairro, a capital de Pernambuco ganhou um centro importante de atrações e de lazer para a população, além de um novo pólo turístico nacional e internacional. 
Recife, 3 de março de 2006. 

FONTES CONSULTADAS:
ALBUQUERQUE, Marcos. Museu Militar do Forte do Brum. Recife: D. Arte Publicidade,[s.d.].

BRAGA, João. Trilhas do Recife: guia turístico, histórico e culturalRecife:  [s.n.] 2000
CAVALCANTI, Carlos Bezerra. O Recife e seus bairros. Recife: Câmara Municipal do Recife, 1998.
FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife: estátuas e bustos, igrejas e prédios, lápides, placas e inscrições históricas do RecifeRecife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.
GALVÃO, Sebastião de Vasconcellos. Diccionario chorografico, histórico e estatístico de Pernambuco. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1908. 4v.
GUERRA, Flávio. Velhas igrejas e subúrbios históricos. Recife: Fundação Guararapes, 1970.
MADUREIRA, Sevy. Bairro do Recife: porto seguro da boemiaRecife: Prefeitura da Cidade do Recife, 1995.
______. Bairro do Recife: a revitalização e o porto seguro da boemiaRecife: Prefeitura da Cidade do Recife, 1996.
ROCHA, Leduar de Assis. Forte do Brum: patrimônio histórico nacional. Recife: [s.n., s.d].
ZANCHETI, Sílvio Mendes; LACERDA, Norma; MARINHO, Geraldo (Org.). Revitalização do bairro do Recife: plano, regulação e avaliaçãoRecife: UFPE, Editora Universitária, Mestrado em Desenvolvimento Urbano e Regional, Centro de Conservação Integrada Urbana e Territorial, 1998.
COMO CITAR ESTE TEXTO:

Fonte: VAINSENCHER, Semira Adler. Recife, bairro. Pesquisa Escolar OnLine, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: dia  mês ano. Ex: 6 ago. 2009.

Fonte:
Semira Adler Vainsencher
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco

Site: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=219&Itemid=1

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Forte das Cinco Pontas
O Forte de São Tiago das Cinco Pontas situa-se no atual bairro de São José, próximo à antiga Estação Rodoviária de Santa Rita. É a última construção holandesa no Recife e um dos monumentos mais representativos da arquitetura colonial. Foi edificado pelos flamengos, no ano de 1630, por determinação do Príncipe de Orange - Frederik Hedrik -, tendo como seu idealizador o comandante Teodoro Weerdemburgh. Chamou-se, primeiramente, de Forte Frederico Henrique.

Construída em taipa sobre um solo alto, e dominando, por completo, o porto do Recife, a fortaleza possuía como padroeira Nossa Senhora da Assunção. Ficava em uma área próxima às cacimbas de água potável de Ambrósio Machado, um abastado senhor de engenho na ilha de Antônio Vaz. Em decorrência de sua proximidade com tais cacimbas, também foi denominada de Forte das Cacimbas de Ambrósio Machado e de Forte das Cacimbas das Cinco Pontas.

Os objetivos mais relevantes daquela fortaleza eram os de garantir à população o suprimento de água potável, mediante a proteção das cacimbas (ponto vital para o abastecimento d’água do Recife), e impedir que os navios inimigos circulassem pelas águas do rio Capibaribe, e chegassem até a Barreta dos Afogados (através de uma passagem existente nos arrecifes), podendo se evadir, a partir daí, com os barcos carregados de açucar.

Com a vinda do Conde João Maurício de Nassau-Siegen para o Recife, os holandeses iniciaram a construção de um canal de trinta metros de largura, partindo do Forte Frederico Henrique e se estendendo até o local onde se encontra, hoje, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Em 1637, por sua vez, as muralhas e a profundidade do fosso da fortaleza foram reformados.

No século XVII, ela é destruída por João Fernandes Vieira e ocupada por tropas luso-brasileiras, sob o comando de André Vidal de Negreiros e do general Francisco Barreto de Menezes. A capitulação dos holandeses ocorre na campina do Taborda, perto do atual Cabanga Iate Clube. Quando o Forte foi rendido, em 1654, havia os seguintes elementos em seu inventário oficial: 17 canhões de calibre 2 a 24, dois alfanges de cortar cabeça e vários outros apetrechos bélicos.

A esse respeito, existe hoje, na entrada do Forte, uma placa que registra a rendição holandesa:

Próximo a este forte das Cinco Pontas, um dos últimos baluartes flamengos, na chamada campina do Taborda, existiu a porta sul de Mauricéia, onde o mestre de campo general Francisco Barreto, chefe militar da campanha de libertação e restauração de Pernambuco, recebeu a 28.1.1654, na qualidade de vencedor, as chaves da cidade, que lhe foram entregues pelo general Segismundo von Schkoppe, comandante das forças holandesas que, na ante-véspera se haviam rendido. Esta memória foi mandada colocar pelo Exército, no ensejo das comemorações do tricentenário da Restauração. 1654 – 1954.

Compreendendo a importância da fortaleza para a segurança e o controle da cidade, do ponto de vista estratégico, Fernandes Vieira ordena que a construção comece a ser restaurada em 1677. Dessa vez, os portugueses empregam um material mais resistente do que a taipa (que os flamengos utilizaram na construção primitiva), e as obras são concluídas em 1684.

Durante essa restauração, porém, um dos baluartes (ou pontas) do forte é suspenso, e o local fica reduzido a quatro pontas apenas (adquire a forma quadrangular), ao invés da pentagonal do início. De 1746, encontra-se preservada a seguinte descrição do Forte das Cinco Pontas: "um quadrado com quatro baluartes, com fossos e estrada coberta, e montava 8 peças de bronze de calibre 6 a 14, 8 de ferro de calibre 6 a 30, e 6 pedreiras de bronze de calibre 1 e 2; era comandado por um Capitão que recebia 16$000 de soldo por mês e mais 3 quartas de farinha, tinha um destacamento de fuzileiros e artilheiros, com um sargento e um condestável."

Mas, continua a ser chamado, por todos, de Forte das Cinco Pontas (ouVijfhoek, em holandês), por ter a forma de uma estrela. A despeito da perda de um baluarte, o local termina ficando, mediante a nova configuração, com uma área total bem maior que a anterior. Cabe dizer ainda que, durante muitos anos, a fortaleza funcionou como uma prisão.

O último nome adquirido pelo forte, finalmente, é o de São Tiago das Cinco Pontas, pelo fato de haver, em seu interior, uma pequena capela dedicada a São Tiago Maior, um dos seus santos padroeiros.

Por volta do ano 1817, o local abriga, também, a sede do Quartel General Militar. Antigamente, o forte possuía uns subterrâneos que serviam de prisão, mas eles foram demolidos no ano de 1822, por ordem de Gervásio Pires Ferreira, que dirigia a Junta do Governo Provisório de Pernambuco. Tais subterrâneos, vale salientar, eram verdadeiros túmulos dos vivos. Um dos presos mais ilustres, em 1935, tratou-se do romancista Graciliano Ramos. Em Memórias do cárcere, seu famoso livro, Graciliano se refere à Estação de Cinco Pontas como sendo um quartel.

O Forte de São Tiago das Cinco Pontas possui um pátio interno, várias celas com grades pesadas, feitas em ferro, e um túnel oculto, planejado para os holandeses fugirem, caso sofressem uma invasão. As muralhas da construção, por outro lado, se apresentam recortadas nos pontos em que aparecem os antigos canhões de bronze. Pode-se apreciar um belo portão na entrada da fortaleza, todo feito em madeira de lei. As demais portas e janelas do forte foram confeccionadas com material idêntico.

Ao lado da fortaleza há um histórico paredão onde, no dia 13 de janeiro de 1825, foi morto o frade carmelita Joaquim do Amor Divino Caneca - o conhecido Frei Caneca. Tal paredão ficava junto à forca, onde deveria morrer o célebre mártir pernambucano.

No início do século XX, o Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucoano mandou colocar uma lápide em mármore, na parede onde Frei Caneca foi morto, contendo os seguintes dizeres:


NESTE LARGO FOI ESPINGARDEADO
JUNTO À FORCA, A 13 DE JANEIRO DE 1825
POR NÃO HAVER RÉO QUE SE PRESTASSE
A GARROTEÁ-LO O PATRIOTA
Homenagem do Instituto
Archeologico e Geogrraphico
2-7-1917 Pernambuco


Além de servir como prisão, o Forte de São Tiago das Cinco Pontas funcionou, ainda, como quartel do Esquadrão de Cavalaria, e como sede da Secretaria de Planejamento (Seplan) da Presidência da República.

A fim de preservar a memória nacional, o então prefeito Gustavo Krause, no dia 14 de dezembro de 1982, transformou o Forte das Cinco Pontas em um museu: o Museu da Cidade do Recife. Com exceção das segundas-feiras, esse museu está aberto à visitação pública todos os dias, incluindo sábados e domingos. O local possui um vasto e importante acervo iconográfico, recolhido em Pernambuco e em Portugal, onde se encontram expostos projetos originais de construções civis, militares e eclesiásticas, cartografias, pinturas, desenhos, esculturas e gravuras.

No museu, dentre as peças importantes podem ser apreciadas as seguintes: maquetes das distintas formas da fortaleza; pinturas de Franz Prost, expondo o Recife e a sua população durante o período holandês; fotografias antigas do Recife; coleção de gravuras antigas; portas entalhadas da Igreja dos Martírios (todas em madeira de lei); peças arqueológicas do próprio forte; pinhas de louça portuguesa de Santo Antônio do Porto; canhões de várias procedências; barra de ouro (de 1645) com um sinete da Companhia das Índias Ocidentais (que foi encontrada em Pernambuco); e uma chave simbólica (em ouro e prata) entregue a Dom Pedro II, por ocasião de sua visita ao Recife em 1859.

O Museu da Cidade do Recife abriga, além dessas relíquias, uma parte do acervo da igreja dos Martírios, um conjunto de 150 mil mapas e fotografias, incluindo 1.114 negativos em vidro, telas, assim como uma exposição de 800 peças que registram o desenvolvimento da cidade do Recife.


       Recife, 30 de setembro de 2003.
       (Texto atualizado em 5 de maio de 2008).


FONTES CONSULTADAS:

BARBOSA, Antônio. Relíquias de Pernambuco: guia aos monumentos históricos de Olinda e RecifeSão Paulo: Fundo Educativo Brasileiro, 1983 .

BARBOSA, Fernanda de Paula. O Forte das Cinco Pontas. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1972. Separata da Revista do Departameto de Cultura, n. 5.

FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.

MOTA, Mauro. Fortalezas do Recife: Cinco Pontas e Brum. Arquivo Público Estadual, Recife, n. 1, p. 79-86, jan./jun. 1946.

RIBEMBOIM, José Alexandre. As comunidades esquecidas: estudo sobre os cristãos-novos e judeus da vila de Igarassu, capitania de Itamaracá e cidade Maurícia. Recife: Officina das Letras, 2002.

SILVA, Leonardo Dantas. Pernambuco preservado: histórico dos bens tombados no Estado de PernambucoRecife: Ed. do Autor, 2002.

COMO CITAR ESTE TEXTO:

Fonte: VAINSENCHER, Semira Adler. Forte das Cinco Pontas. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: dia  mês ano. Ex: 6 ago. 2009.

Fonte:
Semira Adler Vainsencher
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco

Site: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.phpoption=com_content&view=article&id=448&Itemid=185


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